quarta-feira, 22 de outubro de 2008
tina.
ela não era necessariamente a mulher mais feia do mundo. mas era, seguramente, uma das mais. feia, mas um doce. um doce, mas feia. não importava a frase, se ela começava ou terminava com "tina da boléia....", tal frase tinha a palavra feia nela. o que, você pode concordar, não era assim das melhores coisas do mundo para uma mulher vaidosa. sim, tina era muito vaidosa. investiu num caminhão com mais espaço na parte de trás: "dormir 8 horas por dia é o segredo para manter essa pele viçosa." tina fora casada com um vagabundo torcedor do américa do rio. nota: o "vagabundo" da frase anterior não implica que apenas vagabundos torcem para o américa do rio. mas o fêla torcia. e era um vagabundo. certa vez tina entrou em casa e encontrou o vagabundo do marido comendo a prima de terceiro grau. ela, vestida com uma camisa do américa e ele com uma lata de cerveja cintra equilibrada sobre as costas dela-- enquanto ele mandava brasa: "você é muito feia muié." tina não era amargurada. como você sabe, tina era apenas feia. não acreditava em bordões como: "o que importa é o conteúdo... não julgue um livro pela capa...", e similares." acreditava cegamente no espelho e na ausência de cantadas na estrada. e por falar em estrada, hoje, a tina completa e comemora 40 anos de estrada. 40 anos. ao acordar, tina fez um pedido. um desejo. tina queria que pelo menos hoje, alguém, qualquer caminhoneiro, ou mesmo um pedestre. qualquer. tina queria um assobio. um grito de "gostosa" também seria bem vindo. um assobio ou um grito. tina colocou a camisa mais curta, o short jeans desfiado nas pontas e uma meleca no cabelo.
ela não era necessariamente a mulher mais feia do mundo. mas era, seguramente, uma das mais.
pelo final da frase, ele começava.
ele tinha dupla personalidade. e uma das personalidades dele se comportava estranhamente. com uma mania de falar estranha. ao contrário.
pelo final das frases, ele começava.
da mulher-- ele não gostava.
que gostava ele fingia. começando pelo final das frases, mas por falar assim.
que ele não gostava dela, ela não entendia muito bem. ele meio confuso, ela achava.
felizes para sempre, eles viveram.
que fala assim começando pelo final da frase, pois um sujeito.
as pessoas confunde.
sexta-feira, 5 de setembro de 2008
ele tinha trinta e seis centímetros de pau. mas hoje, agora, só conseguia enxergar sete. o pau, a rola dele não ficava mais rígida, dura, como uma vara. seu firmino abriu portas e xanas no cinema pornô. big long joe. um sujeito com um instrumento de trabalho daqueles merecia um nome com três: big long joe. big porque era grosso. long, porque, bom, trinta e seis centímetros de pau. e joe, porque seu firmino era uma pessoa comum. pessoa comum no sentido de que o cidadão típico se identificava com ele. seu firmino era uma espécie de tom hanks do cinema pornô. na verdade, o cidadão típico idolatrava seu fimino, ou melhor, big long joe. as pessoam fodiam as mulheres mais tesudas através de big long joe. mas, a gravidade, e o tempo é que foderam com o pau dele. big long joe agora era seu firmino. com quinhentas gramas de pau murcho.
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"eu não sento nesse pau." carmem de maura, atriz pornô, conhecida pela vulva farta e a habilidade de fazer rolas desparecerem, se recusou a sentar sobre aquele negócio descomunal de big long joe. e ela não era a primeira. mas, no contrato de big long, não havia brechas para frescuras. cada hora de trabalho de big long joe, custava uma fortuna. e, manter a vara dura, muito sangue e concentração. o diretor mandou carmem de maura à merda, chamou a mocinha da recepção da produtora que logo sentiu o trem de big long joe em alta velocidade. nascia ali, uma das duplas pornôs que mais fodeu no cinema nacional. "você tem cara de safíra. esse vai ser o seu nome artístico." big long joe dizia que o olho dela brilhava como a pedra do mesmo nome-- quando ela deitava os olhos sobre os trinta e seis centímetros de pau rijo dele.
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seu firmino conseguiu juntar um dinheiro suficiente para viver com uma certa tranquilidade. alugava dois apartamentos próprios no centro para funcionários da vale do rio doce e vivia num dois quartos com um banheiro e um lavabo no catete. tinha uma carteirinha do clube de regatas do flamengo-- onde nadava entre 5 e 6 da manhã, todos os dias. seu firmino nadava cedo por dois motivos. o volume na sunga e dona mirtes. dona mirtes fazia pilates no clube. também sofria com a falta de sono e por isso mesmo, esbarrava quase todos os dias nas catracas da entrada do clube pela manhã. seu firmino tinha uma vontade enorme de falar com ela. ele escutara que mirtes era viúva e ansiava pela chance de colocar nas mãos dela-- o cordão frouxo da sunga dele. seu firmino tinha a esperança de que ela seria a salvadora da rola dele. certa vez, ao sair da piscina, e passar pela frente da sala de pilates, seu firmino espiou mirtes que, naquele exato instante, tocava as palmas das mãos contra o chão. a visão daquele rabo descomunal-- coberto por lycra preta-- fez mexer o saco de pele murcho que firmino carregava dentro da sunga. e foi ali que firmino passou a acreditar que poderia um dia, ver novamente seus trinta e seis centímetros de pau.
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em 1977 a polícia invadiu a sala de número 2 do roxy copacabana. era a segunda sessão de "senta o pau na amazônia big long joe!" o amazônia do título do filme surgiu pois o produtor achava que conseguiria expandir a distribuição do filme para o estrangeiro. "é exótico porra! estrangeiro adora papagaio, tucano, essas porras todas. vai adorar ver gente fudendo na floresta." bom, mas voltando a polícia, e a sala 2 do roxy. depois da primeira e da segunda sessão, o assunto se propagou como fogo em noite de folga do corpo de bombeiros. uma senhora que entrara por acidente no filme com o neto achando que era uma aventura no norte do brasil, desmaiou ao ver o pau do big long joe. a atriz do filme também desmaiou. e o diretor resolveu manter a cena. resultado. a senhora prestou queixa na delegacia. e duas sessões depois, a polícia lacrava as portas do cinema. nos próximos cinco anos, big long joe só comeu mulheres nos estados unidos e na bulgaria. nos estados unidos porque pagavam bem. e na bulgaria, pois big long joe gostava do sotaque das búlgaras quando gritavam.
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firmino saía da piscina e colocava o roupão. ele não arriscava expor aqueles bagos protuberantes. naquela terça-feira, pela primeira vez, mirtes deu "bom dia" para firmino. que, prendeu o sorriso, respondeu de volta e, com educação, deixou ela passar na frente na catraca. ele fincou os olhos nas batatas das pernas de mirtes e apalpou a sunga para ver se algo movia. "mexeu! meu pau mexeu!", pensou firmino. era a segunda vez em oito anos que seu pau se mexia. e a segunda vez-- graças aquela mulher. mirtes era responsável por duas ocasiões de pau com vida. oito anos antes, ao assistir um comercial de margarina, firmino sentira tesão pela mulher que mordia o pão lambuzado de margarina. e desde então, nada. até conhecer mirtes. ou melhor, até esbarrar em mirtes. e nas coxas fartas dela. ela, que ainda não sabia o seu nome. mas, que-- em questão de alguns meses de flerte-- viria a ser a responsável por despertar o coração moribundo-- e cada centímetro de seu firmino.
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"não chupa meu pau com batom!" big long joe não suportava cenas de sexo oral em que a atriz melecava a boca e, consequentemente-- o instrumento de trabalho dele-- com batom. era o último filme de big long joe. uma namorada ciumenta, um acidente de moto e a rotina de trabalho-- fizeram com que big long joe decidisse parar. seu nome já estava garantido no hall da fama sediado em san fernando, na california. recentemente, big long joe tinha feito um molde para que mulheres pudessem ter uma versão dos trinta e seis centímentros dele de borracha-- em casa. 389 filmes. "tudo em película!" se gabava big long joe. dinheiro, ele tinha o suficiente. e, também tinha mais uma coisa. algo que só ele sabia-- forçou big long a abandonar as xanas das atrizes pornôs. no penultimo filme-- big long teve que tocar meia punheta no camarim para chegar ao set de filmagem com a rola quase pronta. ele já não conseguia mais ficar pronto como antes. big long queria sair por cima. com os trinta e dois centímetros de pau melecados de batom que ainda restavam. big long joe saía de cena. e dava lugar para seu firmino.
papel quente recém saido da máquina de xerox.
manias. eu tenho manias. escrever a palavra "manias" na su versão no plural e no singular, "mania"-- como você pode ver, é uma delas. raspar todo o cabelo, os pêlos do corpo. cada um. todos os fios, essa é uma das outras manias que eu tenho. tenho uma farta cabeleira. mas raspo. no primeiro sinal do fio de cabelo a romper o limite do couro cabeludo, passo a lâmina. cílios, sobrancelhas, cabelo do dedão do pé. todos. manias. uma outra mania que eu tenho é fazer cursos. tenho uma tara por diplomas. na verdade tenho mania por diplomas e aquele carimbo feito com cera quente. aquela melequinha que usam para dar aquela personalizada no seu diploma. o único problema com essa mania é que leva tempo para ganhar o diploma. mas tudo bem-- pois tenho mania de ler livros técnicos. mania de cheirar resmas de papel. por falar nisso, tenho mania de esfregar contra o rosto-- papel quente recém saido da máquina de xerox. outra mania que eu tenho é pegar cavalos marinhos. coleciono em potes médios de maionese hellman's. tem que ser o médio. no pote grande, fica desproporcional. o que para você pode parecer estranho. mas mania a gente não escolhe. é a mania que escolhe a gente.
contar para as pessoas as minhas manias. essa é outra das minhas muitas, manias.
stereotipos.
porque é que será que nos desenhos animados os dois estão sempre brigando e aqui em casa se dão tão bem? porque será que eu nunca tive azar, apesar de morar com um gato preto dentro de casa? porque será que o cachorro não traz o jornal na boca para mim todos os dias como nas propagandas? porque eu não consigo parar de pensar nessas perguntas?
terça-feira, 12 de agosto de 2008
tânia, maria e as marolas.
meu é nome é tânia, sou viúva e tenho mais que sessenta, menos que setenta. esta banheira-- é o melhor lugar do mundo para mim. e estou completamente apaixonada-- pelo patinho que ganhei de uma sobrinha.
maria é o nome da minha sobrinha. tem nome de santa. mas como você já sabia pelo o que anunciava a frase anterior-- de santa, a maria não tem nada. bonita a danada. ela tem dezenove. corpo de vinte e dois. carinha de dezesseis. na média, dezenove. (o corpo de) maria pertuba a cabeça dos mais velhos e a cueca dos mais novos. ela não rebola. mas também não anda reto. anda num estado permanente de câmera lenta. quase suada. com um brilho que realça de longe as curvas das batatas das pernas e aquele lugarzinho das costas onde a bunda ameaça começar. e a sortuda tem um par de peitos que desafiam a lógica e a gravidade e por isso (e pelo calor), opta por não usar soutien.
o patinho que eu ganhei da minha sobrinha usa pilhas. seis pilhas.
quarta-feira, 30 de julho de 2008
ah, joemir.
"estranho...", pensou joemir.
ele ficou ali de longe olhando para a tv como se não entedesse o que estava acontecendo. "mas... mas... eu desliguei essa porra antes de dormir. e national geographic? nunca assisto essa merda de canal." joemir apoiou a cabeça no queixo e começou a pensar. em poucos segundos, antes mesmo de chegar a qualquer conclusão plausível--- joemir escutou uma voz aguda vindo da cozinha: "amorzinho fofo, o café está pronto." joemir morava sozinho. nunca se casou. nunca juntou com ninguém. de quem é que poderia ser aquela voz? joemir estava com dores de cabeça. quem mandou tomar gin tônica. (o segredo da gin tônica está no gelo, quanto mais gelo, menos dor de cabeça. o gelo é tão importante quanto a qualidade do gin) a cabeça de joemir quase explodiu com o segundo chamado da cozinha. e foi aí que joemir lembrou. foi aí que caiu a ficha. joemir não estava sozinho. e ele sabia perfeitamente quem havia ligado a tv. ele sabia quem estava na cozinha. não sabia o nome. mas sabia porque ela estava lá. esperando joemir--- pacientemente-- com uma panela de cobre daquelas pesadas--- na mão. joemir engoliu seco e disse, baixinho: "porra, esqueci de pagar a puta."
ele ficou ali de longe olhando para a tv como se não entedesse o que estava acontecendo. "mas... mas... eu desliguei essa porra antes de dormir. e national geographic? nunca assisto essa merda de canal." joemir apoiou a cabeça no queixo e começou a pensar. em poucos segundos, antes mesmo de chegar a qualquer conclusão plausível--- joemir escutou uma voz aguda vindo da cozinha: "amorzinho fofo, o café está pronto." joemir morava sozinho. nunca se casou. nunca juntou com ninguém. de quem é que poderia ser aquela voz? joemir estava com dores de cabeça. quem mandou tomar gin tônica. (o segredo da gin tônica está no gelo, quanto mais gelo, menos dor de cabeça. o gelo é tão importante quanto a qualidade do gin) a cabeça de joemir quase explodiu com o segundo chamado da cozinha. e foi aí que joemir lembrou. foi aí que caiu a ficha. joemir não estava sozinho. e ele sabia perfeitamente quem havia ligado a tv. ele sabia quem estava na cozinha. não sabia o nome. mas sabia porque ela estava lá. esperando joemir--- pacientemente-- com uma panela de cobre daquelas pesadas--- na mão. joemir engoliu seco e disse, baixinho: "porra, esqueci de pagar a puta."
sexta-feira, 18 de julho de 2008
o dilema do palhaço
- mas veja só....aquele filho da puta que passou me chamou de palhaço!
- mas você É um palhaço.
- não, não, mas o tom. o tom foi outro.
- o tom?
- é, foi "pa-LHA-ço" como quem diz "idiota."
- é verdade. notei a entonação. agora que você disse, ficou mais claro.
- que merda, se eu pego aquele bosta...
- deve ser complicado.
- o que?
- ser um palhaço. e não poder fazer nada. o babaca te chama de palhaço com a intenção de te chamar de "idiota" e você, aí vestido de palhaço... não pode...
- é.... foda.
terça-feira, 8 de julho de 2008
Pedaço de fruta.
ele sempre reclamava das propagandas enganosas."como é que um sabão em pó pode deixar as roupas ainda mais brancas?" "como é que essa fórmula de pasta de dente é ainda melhor do que a antiga? quer dizer que antes estavam de putaria?" sua mulher levantava na hora dos comerciais com a desculpa de ter uma bexiga frouxa. as vezes, ele comprava produtos só para testar: "esse papel higiênico não tem 48 metros, nem fudendo."
mas hoje era um dia diferente. pela primeira vez em muito tempo, ele ficou mudo. alí, olhando para o picolé, não sabia se mordia ou chorava. armando estava emocionado. a porra do picolé tinha sim, pedaços de fruta. gigantes.
mas, antes que armando pudesse chamar a família inteira para ver-- o picolé começou a derreter lentamente na direção do seu braço. armando prendeu o choro, mordeu o picolé e sussurou entre pedaços de morango: "essa porra, é picolé ou é suco? deixa eu ler a embalagem novamente!? vai enganar a sua mãe, filhodaputa."
mas hoje era um dia diferente. pela primeira vez em muito tempo, ele ficou mudo. alí, olhando para o picolé, não sabia se mordia ou chorava. armando estava emocionado. a porra do picolé tinha sim, pedaços de fruta. gigantes.
mas, antes que armando pudesse chamar a família inteira para ver-- o picolé começou a derreter lentamente na direção do seu braço. armando prendeu o choro, mordeu o picolé e sussurou entre pedaços de morango: "essa porra, é picolé ou é suco? deixa eu ler a embalagem novamente!? vai enganar a sua mãe, filhodaputa."
quarta-feira, 2 de julho de 2008
o vinho de caixa e o chupão do tamanho de um cream cracker mordido-- no meu pescoço.
eu compro vinho de caixa. vinho em caixa longa vida. não fodi. a vida tá difícil. não dá para ficar por aí cheirando rolha com aquela pose de quem sabe fazer tradução simultânea das músicas do charles aznavour. olha para mim e diz se eu tenho cara de mané que vai ficar lambendo borda de taça de cristal e comentando sobre o sei lá aveludado do vinho. olha para mim e me diz com todo o respeito se eu tenho cara de filho da puta com dinheiro sobrando na minha conta do banco. ok, essa gola rolê é bem escrota. mas estou usando uma camisa com gola rolê por um motivo muito simples: chupão. estou com um chupão do tamanho de uma tarântula no pescoço. tenho uma namoradinha bem gostosinha (que neste caso, apesar do diminutivo da palavra gostosinha, é gostosa para cacete) que ficaria puta se visseo chupão. e para piorar a situação, está começando a ficar quente. o pescoço está començando a coçar. bom, mas a história era sobre o vinho de caixa. vinho em caixa de papelão. desde que eu tomei coragem, nunca mais mudei. e não vou mudar. já acabei um namoro porque a muié tinha vergonha de servir vinho em caixa longa vida para os convidados. eu tenho orgulho. sirvo, puxo uma cadeira e conto as vantagens. tento converter o fêla da pulta que tentar me convencer que um bordeaux ano 77 vale o seu preço. se eu fosse famoso e fizessem uma daquelas entrevistas com perguntas de respostas simples, sabe? qual o filme favorito? qual o cantor? cantora? qual isso? qual aquilo? bom, se me perguntassem: "e a bebida favorita?" eu responderia na lata: vinho de caixa. é vinho porra. é aquele negócio do "não julgue um livro pela capa." ou "o que importa é o conteúdo." e por aí vai. não sei se você já tomou vinho de caixa. acho que não. tenho certeza que não. não é todo mundo que tem colhões gordos para pedir um vinho de caixa safra carrefour prateleira debaixo. eu tenho. opa, escutou o barulho? é a campainha, o interfone. a minha namoradinha está subindo. esqueci de contar. voltei com a tal (a gostosinha) que tinha vergonha de servir vinho de caixa para os amigos. ela está subindo com a irmã e uma coleguinha do trabalho. aí você me pergunta: "mas porque caráio eu abri um vinho de caixa, sabendo que vai dar merda?" meu amigo, é que você não está aqui em casa. está quente para cacete. cada vez mais. essa namoradinha vai pedir para eu tirar a gola rolê: "mas joel, está tão quente, tira essa gola rolê." e como você já sabe que o chupão no meu pescoço é do tamanho de um ovo de dinossauro, eu resolvi puxar o vinho de caixa do fundo do armário. na primeira sugestão para tirar a gola rolê, eu vou melar os beiços com o vinho da caixa e oferecer para servir uns duzentos ml para cada convidado. se o vinho de caixa não desviar a atenção do chupão do tamanho de um lp do wando-- que se encontra no meu pescoço, aí meu amigo, eu estou na merda.
sexta-feira, 16 de maio de 2008
a lista de maria.
a loteria acumulou.
90 milhões de reais. é o prêmio para quem acertar os 6 números.
maria não sabe o que vai fazer se ganhar. primeiro pensou em comprar uma lancha daquelas com um jet-ski agarrado atrás. mas maria mora em minas gerais. e maria sabe-- que se é uma coisa que minas gerais não tem, é litoral. depois maria pensou que poderia comprar uma casa grande. “casa não, mansão.” mas mansão pede mordomo. e maria, leitora fiel de livros policiais, sabe que o assassino é sempre ele, o mordomo. maria espiou a lista de desejos e num honroso terceiro lugar estava lá: “diamante!” assim mesmo, com um ponto de exclamação. mas a exclamação foi breve. Porque maria tinha recentemente assistido o filme dos diamantes com o leonardo di caprio. maria, agora sabendo a origem deles, dos diamantes, perdera um pouco da vontade. Um pouco não, muito. diamantes brilhavam para maria, mas nem tanto. maria olhou novamente para a lista, que já se encontrava toda rabiscada , e viu que já não tinha destino certo para toda aquela fortuna. maria coçou a cabeça. ou melhor, maria coçou a base da nuca, expulsou o ar dos pulmões e chegou a conclusão que não sabia mais o que fazer o prêmio se ganhasse. ficou ali, parada na fila, olhando para aquele mar de gente. e, calmamente, maria deu um passo para a esquerda. não para frente. não para trás. maria saiu da fila. "a vida, cacete...", filosofou maria, "...tem mais graça, quando se tem pelo menos um pentelho que seja, de ambição."
quarta-feira, 7 de maio de 2008
o melhor amigo e as polaróides.
“filho da puta!!”, gritava adalberto. o cachorro, que não falava português obviamente, apenas olhava para ele. adalberto estava puto. e com razão. seu melhor amigo acabara de mastigar as polaróides que ele tinha tirado de sua ex-namorada. as polaróides, de uma época em que câmera digital não existia ou sequer dava pistas que um dia se tornaria realidade. não dava para editar, era click, esperar, olhar e guardar. adalberto levara um ano inteiro para convencer a namoradinha a deixar ele tirar aquelas fotos. topless. tudoless. eram oito, oito fotos. muito bem guardadas. a namorada já não estava mais na área. mas, sempre que batia uma saudade, adalberto pescava as danadas na gaveta e pimba. e como é que o melhor amigo dele, do carente adalberto-- encontrou as divinas polaróides? bom, num belo dia, adalberto chegou em casa esfomeado. abriu o armário da cozinha sem pensar. e, atrás de algo para saciar a fome, encontrou, ali, meio que abandonado um saco daqueles de pipoca de microondas. daqueles com 10 anos de validade. a pipoca estava ali desde o fim do relacionamento com a dona da bunda farta que adornava aquelas polaróides. adalberto pensou não uma, mais seis vezes e jogou o saco no microondas.
o cheiro da pipoca invadiu a cozinha e as narinas dele, nessa ordem. "extra manteiga", esse era o sabor da pipoca. e extra manteiga, você sabe, mela os dedos. a primeira mão de pipoca saciou a fome. a segunda mão acalmou os nervos. adalberto já podia pensar com mais clareza. e esse foi o problema. a partir do instante que a fome deixou de ser protagonista de suas grandes preocupações, a terceira mão de pipoca trouxe memórias. a namorada. a que cedeu seus direitos de imagem para as polaróides. aquelas. adalberto, como um míssil teleguiado se dirigiu para a gaveta. sem lavar as mãos. sem mesmo lamber os dedos, adalberto catou as polaróides. e fez o download mental de cada uma delas. len-ta-men-te. as imagens estavam novamente frescas na sua cabeça. com um misto de frustração e ansiedade. frustração por ter mais uma vez revelado para si mesmo aquele ponto fraco. e ansiedade para vê-las novamente.
mas voltemos a primeira linha deste texto. mais precisamente ao berro de "filho da puta!!". o cachorro, sem saber o significado daquelas palavras que pulavam da boca de adalberto, só sabia que tinha feito alguma merda. mas a culpa não era dele. era da manteiga extra. o cão farejou o aroma de longe, como funcionários de um escritório ao sentir o cheiro do pipocar do milho na copa da empresa fazem. as fotos, meladas de manteiga. o cão fuçou a gaveta que fora deixada exposta pela óbvia pressa minutos antes de adalberto. e pronto, fincou os caninos em cada uma delas. o gosto era uma merda, logo concluiu o cachorro. mas era tarde. as polaróides já tinham ido para o caráio. inconsolável, de um dos cantos do apartamento, adalberto tentava perdoar o cahorro. em voz alta, adalberto murmurava: "tudo bem. tudo bem. a filha da puta era gostosa mesmo. para cacete. tudo bem." e todas as noite, desde aquele dia, sempre que adalberto encontrava um anúncio de uma máquina digital no jornal, ficava com uma vontade danada de ligar para a dona dos superlativos das finadas polaróides. "vai que...", pensava adalberto-- enquanto tentava acessar aquele cantinho da cabeça dele em que existia a quase nula chance de encontrar cópias das polaróides.
quarta-feira, 16 de abril de 2008
o esporte favorito do namorado e a faixa.
as pessoas perguntam porque a faixa na cabeça. não pratico esportes. softball não é um esporte. eu tenho o taco, o "bat", mas não é esporte. é coisa da faculdade. é entertainment, como diriam os americanos. baseball sim, baseball é um esporte. mas eu não jogo baseball. softball, até pelo nome, podemos dizer que não é um esporte. poderíamos passar um tempão aqui argumentando se softball é ou não um esporte. mas o assunto era a faixa. voltemos a faixa na cabeça. o bjorn borg usava. com muito style, diga-se de passagem. um dos atores do filme "royal tenembauns", também. acho que esse sim, o ator, usava em homenagem ao bjorn. eu não. a faixa é 90 e tal por cento algodão e alguns por cento elastano. o elastano, obviamente é o responsável pela elasticidade. "estilo...", eu penso baixinho. o anos 70 estão na moda. trendy, trendy. os anos 70 são trendy. meu namorado gosta da faixa. ele gosta da faixa por um outro motivo. não é porque é trendy, porque está na moda. não. meu namorado não tira as meias na hora de transar e eu não tiro a faixa. ele mesmo diz: "não tira faixa não amor. está na moda." mas eu sei que não é por isso. ele não liga lá para a moda. a explicação, eu sei, no fundo no fundo, é a mesma que eu usaria se praticasse esportes: o suor. a faixa absorve o suor. muito suor. bom, e não é nenhum segredo que o esporte do meu namorado é esse: o sexo.
as pessoas perguntam: "porque você usa essa faixa? 24 horas por dia?" softball como já te disse, não é lá assim um esporte. não cola. e quando a pergunta não é sobre a faixa, especificamente, vão direto ao ponto: "mas que esporte é esse, que você pratica?" eu mudo o assunto. pergunto se a tal pessoa já assistiu "os royal tenenbaums". como já te disse, um dos personagens usa a mesma faixa. mudo de assunto. embalo no wes anderson, falo do "the life aquatic with steve zissou." a única coisa que eu não posso dizer, até porque minha mãe é muito religiosa, é que o esporte favorito do meu namorado é o sexo. você sabe como são os vizinhos. se você juntar numa mesma história, uma faixa que absorve bastante suor e sexo, bem, não é lá a melhor combinação. minha mãe não perdoaria. até porque, ela jura que eu uso sempre a faixa por causa do softball.
quarta-feira, 2 de abril de 2008
a linalva
meu nome é gilmar. amo essa mulher. quando eu a conheci, não era careca. "homão" ela me chamava. "vem cá meu homão isso. vem cá meu homão aquilo." nossa primeira vez foi encostado no portão da casa dela. a porta rangia, o cachorro latia. mas o tempo é foda rapaz. o tempo é complicado. meu cabelo se foi. mas a vontade de pegar ela de jeito, não. e se antes a linalva segurava qualquer onda. aguentava minhas manias. toda essa paciência foi para o caralho. o futebol ela aguenta. a mania de ajeitar o saco quando coloco meu jeans lee, também. mas catar resto de carne dos dentes com palitos 'gina', nunca. eu conheço aquela cara. aqueles lábios caidos. quando os lábios da linalva ficam molengas, fodeu. é que a linalva fica puta com o barulhinho. aquele, da língua sugando a carninha. a mesma carninha que é empurrada simultaneamente pelo palito de madeira 'gina'.
a linalva não suporta a minha relação com os palitos gina. porra, mas o que é que eu posso fazer se eu tenho os dentes frouxos. não fica assim não linalva. dezessete minutos depois, no intevalo de santos e guaratinguetá, linalva grita, durantes os melhores momentos de gilmar: "homão. vem cá meu homão."
segunda-feira, 24 de março de 2008
os melhores amigos e o joelho enrugado.
os dois eram amigos desde pequenos. quando tinham três, já moravam no mesmo prédio. jogaram no mesmo meio de campo durante muitos anos. um, mais recuado. o outro, naturalmente, mais avançado. já namoraram irmãs. já namoraram melhores amigas. foram da mesma turma durante sete anos consecutivos. até que um resolveu seguir engenharia e o outro direito. mas mesmo assim, anos depois, mantiveram a amizade. ambos fazem um esforço descomunal para tomar um sagrado chopp. toda terça-feira. isso, apesar de um trabalhar na casa do caralho e o outro casa do cacete. e a amizade dos dois parecia que morreria assim. sólida. única. parecia. até o dia que flávio, ao conhecer a nova namorada de arthur, fez um comentário. foi a menina levantar para ir ao banheiro que flávio disse: "legal. bonita. mas tem um joelho esquisito. enrugado." e arthur, com um dos cantos da boca cagado de mostarda refletiu no comentário do melhor amigo: "joelho enrugado?" a namorada voltou. a noite seguiu. sorriso amarelo. sorriso amarelo. beijo. beijo. abraço. abraço. " a gente se fala."
nunca mais se falaram. culpam o trânsito. culpam o trabalho. mas os dois, no fundo sabem que nenhuma amizade, por mais forte que ela seja, resiste a um comentário escroto daqueles.
Filé de Soja
eu não sou vegetariana mas finjo que sou.
eu não sou hippie mas finjo que sou.
eu não sou contra casacos de pele mas finjo que sou.
eu não sou budista mas finjo que sou.
eu não sou fã de kubrick mas finjo que sou.
eu não sou fã de caetano mas finjo que sou.
eu não sou fã de acampar na natureza mas finjo que sou.
eu não sou feliz com o meu marido que é isso tudo.
mas finjo que sou.
sexta-feira, 14 de março de 2008
IF - Heavy
"please... no drum solo... please no drum solo..."
o led zeppelin não tocava junto desde os tempos áureos dos anos 70. e apesar da noite histórica, otávio só conseguia pensar numa coisa: "não toca moby dick. não toca moby dick. não toca moby dick." por dois motivos. o primeiro, e mais óbvio, é que assim que começasse a música, bastaria um grito lá do fundo: "moby dick! porra!!!" para sua noiva (que fora ao concerto só por ele-- e não conhecia picas da banda) se sentir ofendida. pois iria, com toda a certeza do mundo, achar que era com ela-- e não com a música. e o segundo motivo, e definitivamente, o mais importante: o solo de bateria imortalizado com as baquetas de john bonham. no último disco deles, o solo de bateria de moby dick durou exatos 19 minutos e 23 segundos. o estresse com a noiva ele aguentava. o solo de bateria com ela em cima, não.
O aroma do pão.
o flamengo ganhou do meu vasco da gama. mais uma vez. saudade do dinamite. saudade do andrada. saudade do geovanni. já já o filho da puta do 51 aparece: "ô, ô, ô, obina é melhor do que o etô."trabalho desde 1974 nesse prédio. me pagam uma merreca mas tenho apartamento de graça. sou viúvo. criei dois filhos aqui.o primeiro é escrivão da aeronáutica. queria ser paraquedista, mas tinha a sola de um dos pés chata. "pai eu tenho a sola do pé chata!" nunca vi uma pessoa chorar tanto por causa de uma sola de pé. o segundo casou com uma prima. vende enciclópedias. de porta em porta. esse tá na merda: "a internet me fodeu." deve dois paus no cheque especial.
minha vida se resume a dois botões. o da entrada do prédio. e o da garagem. leio a revista veja em prestações. e as manchetes dos jornais dos moradores atrasados. mas não é tão ruim quanto parece. tem uma coisa que me faz continuar:a madame do 22. aquele cheiro de pão quente que ela carrega debaixo do braço vindo da padaria-- misturado com o desodorante 'rastro' mexe comigo. ela faz de propósito. abre uma frestinha do saco de pão e abana o suvaco só para me tentar. hoje eu como aquele pão. não tenho nada a perder. o meu vasco já foi para o caralho.
terça-feira, 11 de março de 2008
O CAROÇO
- nos filmes parecia mais saboroso.
- saboroso?
- o dry martini.
- tá ruim?
- tá ok.
- ok é uma bosta.
- ok é ok.
- mas-- se poderia ser melhor, então é uma bosta.
- nos filmes, quando o sean connery pedia eu ficava morrendo de vontade.
- e quando o pierce brosnan pedia?
- não. sean connery. o brosnan tinha cara de tomar aquilo forçado. porque tava no roteiro.
- a azeitona, você vai comer?
- como?
- a azeitona?
- eu dou, mas só se você prometer que vai comer de uma vez. odeio homem que fica mordiscando as beiradas da azeitona.
- e chupar o caroço da azeitona, pode?
- nem fudendo.
silêncio.
silêncio.
- na cindy crawford parecia mais saboroso.
- saboroso?
- a pinta.
AQUELE
aquela mão no queixo. aquele par de óculos moderno. aquela calça diesel. aquela camisa lacoste. aquele cabelinho grisalho. aquele par de sapatos emergenildo zegna. aquele ar de que entendeu o quadro. aquele ar blasè. aquela boquinha nervosa que devora canapés com patê. aquele nariz empinado. aquele cara, só não me come se não quiser.
O PONTA ESQUERDA
matias jogava bola como poucos. no campeonato de 1967, marcou vinte e nove gols. todos com a canhotinha. o canhão de navarone. não de niterói. de navarone. reza a lenda que o canhão de matias aleijou um zagueiro e rompeu o tímpano de um gandula. "lenda não, aquele filho da puta nunca mais andou." matias não perdoava zagueiros desleais. machucava também as mulheres. minutos antes da final de 67, matias foi pego pelo técnico comendo a filha dele no vestiário. lá fora a torcida gritava: "matias! matias!" lá dentro, a filha do técnico: "matias!! matias!!" e ali, ao lado, com a mão direita apoiada na cintura, o técnico: "matias!" naquela tarde matias deus duas, marcou quatro e dedicou todos os gols mais o troféu de artilheiro para o técnico.
segunda-feira, 10 de março de 2008
O QUEIXO DO MOLEQUE
- muié? conta você ou conto eu?
- fala baixo ou ele vai escutar.
- porra, cansei dessa babaquice. o moleque não tem culpa.
- passa o molho de tomate.
- molho de tomate? mas que mudança brusca de assunto, e o moleque?
- o molho.
- só se você devolver o meu maço de cigarros.
- ok, conta você.
- não, conta você.
- você.
- não precisa.
- como não precisa?
- ele tem um furo no queixo.
- furo no queixo?
- é, igual ao do john travolta.
- e?
- eu não tenho. você não tem. deixe ele crescer mais um pouco que ele
vai notar. vai descobrir sozinho.
- e se ele não notar?
- as mães dos amiguinhos malvados da escolinha dele com certeza vão
notar.
- que bom.
ANCA DA CYBILL SHEPHERD
- caralho, ela tinha que perguntar se eu me masturbava pensando nela? não consigo mentir. tive que falar que só consigo gozar pensando na cybill shepherd do seriado "a gata e o rato." e logo ela que tinha tudo para dar certo. aprecia o esquema tático do muricy. sabe tirar a babinha do quiabo. cybill shepherd.
ancuda do caralho. porra, tá vendo. é só falar na cybill que eu já tenho que ajeitar a cueca.
MÁRIO
mário não gostava de piadas que envolviam o seu nome e um armário. mário cresceu em copacabana na rua cupertino durão. mário também não gostava de piadas que envolviam o seu nome, um armário e o nome da rua em que ele cresceu.
o sobrenome do mário era "rego". mário rego. como em: "mário rego?" e ele: "presente!" mário não gostava de piadas que envolviam o seu nome, um armário , o nome da rua em que ele cresceu e o seu sobrenome. mário tinha um pintinho. um animal de estimação. não o orgão sexual. que como você pôde ver, permite uma infinidade de piadas. mário não gostava de piadas que envolviam o seu nome, um armário, o nome da rua da casa que ele cresceu, seu sobrenome e o seu pintinho. mário gostava muito de uma só coisa.
mário gostava do gato.
o gato, felizmente não permitia piadas com conotação sexual de gosto duvidoso.
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