quarta-feira, 30 de julho de 2008

ah, joemir.

"estranho...", pensou joemir.
ele ficou ali de longe olhando para a tv como se não entedesse o que estava acontecendo. "mas... mas... eu desliguei essa porra antes de dormir. e national geographic? nunca assisto essa merda de canal." joemir apoiou a cabeça no queixo e começou a pensar. em poucos segundos, antes mesmo de chegar a qualquer conclusão plausível--- joemir escutou uma voz aguda vindo da cozinha: "amorzinho fofo, o café está pronto." joemir morava sozinho. nunca se casou. nunca juntou com ninguém. de quem é que poderia ser aquela voz? joemir estava com dores de cabeça. quem mandou tomar gin tônica. (o segredo da gin tônica está no gelo, quanto mais gelo, menos dor de cabeça. o gelo é tão importante quanto a qualidade do gin) a cabeça de joemir quase explodiu com o segundo chamado da cozinha. e foi aí que joemir lembrou. foi aí que caiu a ficha. joemir não estava sozinho. e ele sabia perfeitamente quem havia ligado a tv. ele sabia quem estava na cozinha. não sabia o nome. mas sabia porque ela estava lá. esperando joemir--- pacientemente-- com uma panela de cobre daquelas pesadas--- na mão. joemir engoliu seco e disse, baixinho: "porra, esqueci de pagar a puta."

sexta-feira, 18 de julho de 2008

o dilema do palhaço



- mas veja só....aquele filho da puta que passou me chamou de palhaço!
- mas você É um palhaço.
- não, não, mas o tom. o tom foi outro.
- o tom?
- é, foi "pa-LHA-ço" como quem diz "idiota."
- é verdade. notei a entonação. agora que você disse, ficou mais claro.
- que merda, se eu pego aquele bosta...
- deve ser complicado.
- o que?
- ser um palhaço. e não poder fazer nada. o babaca te chama de palhaço com a intenção de te chamar de "idiota" e você, aí vestido de palhaço... não pode...
- é.... foda.

quem mandou tirar os óculos escuros.



"mas que bunda", pensava ele.
"mas que filho da puta", gritava ela.

terça-feira, 8 de julho de 2008

Pedaço de fruta.

ele sempre reclamava das propagandas enganosas."como é que um sabão em pó pode deixar as roupas ainda mais brancas?" "como é que essa fórmula de pasta de dente é ainda melhor do que a antiga? quer dizer que antes estavam de putaria?" sua mulher levantava na hora dos comerciais com a desculpa de ter uma bexiga frouxa. as vezes, ele comprava produtos só para testar: "esse papel higiênico não tem 48 metros, nem fudendo."

mas hoje era um dia diferente. pela primeira vez em muito tempo, ele ficou mudo. alí, olhando para o picolé, não sabia se mordia ou chorava. armando estava emocionado. a porra do picolé tinha sim, pedaços de fruta. gigantes.

mas, antes que armando pudesse chamar a família inteira para ver-- o picolé começou a derreter lentamente na direção do seu braço. armando prendeu o choro, mordeu o picolé e sussurou entre pedaços de morango: "essa porra, é picolé ou é suco? deixa eu ler a embalagem novamente!? vai enganar a sua mãe, filhodaputa."

quarta-feira, 2 de julho de 2008

o vinho de caixa e o chupão do tamanho de um cream cracker mordido-- no meu pescoço.

eu compro vinho de caixa. vinho em caixa longa vida. não fodi. a vida tá difícil. não dá para ficar por aí cheirando rolha com aquela pose de quem sabe fazer tradução simultânea das músicas do charles aznavour. olha para mim e diz se eu tenho cara de mané que vai ficar lambendo borda de taça de cristal e comentando sobre o sei lá aveludado do vinho. olha para mim e me diz com todo o respeito se eu tenho cara de filho da puta com dinheiro sobrando na minha conta do banco. ok, essa gola rolê é bem escrota. mas estou usando uma camisa com gola rolê por um motivo muito simples: chupão. estou com um chupão do tamanho de uma tarântula no pescoço. tenho uma namoradinha bem gostosinha (que neste caso, apesar do diminutivo da palavra gostosinha, é gostosa para cacete) que ficaria puta se visseo chupão. e para piorar a situação, está começando a ficar quente. o pescoço está començando a coçar. bom, mas a história era sobre o vinho de caixa. vinho em caixa de papelão. desde que eu tomei coragem, nunca mais mudei. e não vou mudar. já acabei um namoro porque a muié tinha vergonha de servir vinho em caixa longa vida para os convidados. eu tenho orgulho. sirvo, puxo uma cadeira e conto as vantagens. tento converter o fêla da pulta que tentar me convencer que um bordeaux ano 77 vale o seu preço. se eu fosse famoso e fizessem uma daquelas entrevistas com perguntas de respostas simples, sabe? qual o filme favorito? qual o cantor? cantora? qual isso? qual aquilo? bom, se me perguntassem: "e a bebida favorita?" eu responderia na lata: vinho de caixa. é vinho porra. é aquele negócio do "não julgue um livro pela capa." ou "o que importa é o conteúdo." e por aí vai. não sei se você já tomou vinho de caixa. acho que não. tenho certeza que não. não é todo mundo que tem colhões gordos para pedir um vinho de caixa safra carrefour prateleira debaixo. eu tenho. opa, escutou o barulho? é a campainha, o interfone. a minha namoradinha está subindo. esqueci de contar. voltei com a tal (a gostosinha) que tinha vergonha de servir vinho de caixa para os amigos. ela está subindo com a irmã e uma coleguinha do trabalho. aí você me pergunta: "mas porque caráio eu abri um vinho de caixa, sabendo que vai dar merda?" meu amigo, é que você não está aqui em casa. está quente para cacete. cada vez mais. essa namoradinha vai pedir para eu tirar a gola rolê: "mas joel, está tão quente, tira essa gola rolê." e como você já sabe que o chupão no meu pescoço é do tamanho de um ovo de dinossauro, eu resolvi puxar o vinho de caixa do fundo do armário. na primeira sugestão para tirar a gola rolê, eu vou melar os beiços com o vinho da caixa e oferecer para servir uns duzentos ml para cada convidado. se o vinho de caixa não desviar a atenção do chupão do tamanho de um lp do wando-- que se encontra no meu pescoço, aí meu amigo, eu estou na merda.