sexta-feira, 16 de maio de 2008

a lista de maria.


a loteria acumulou.
90 milhões de reais. é o prêmio para quem acertar os 6 números.

maria não sabe o que vai fazer se ganhar. primeiro pensou em comprar uma lancha daquelas com um jet-ski agarrado atrás. mas maria mora em minas gerais. e maria sabe-- que se é uma coisa que minas gerais não tem, é litoral. depois maria pensou que poderia comprar uma casa grande. “casa não, mansão.” mas mansão pede mordomo. e maria, leitora fiel de livros policiais, sabe que o assassino é sempre ele, o mordomo. maria espiou a lista de desejos e num honroso terceiro lugar estava lá: “diamante!” assim mesmo, com um ponto de exclamação. mas a exclamação foi breve. Porque maria tinha recentemente assistido o filme dos diamantes com o leonardo di caprio. maria, agora sabendo a origem deles, dos diamantes, perdera um pouco da vontade. Um pouco não, muito. diamantes brilhavam para maria, mas nem tanto. maria olhou novamente para a lista, que já se encontrava toda rabiscada , e viu que já não tinha destino certo para toda aquela fortuna. maria coçou a cabeça. ou melhor, maria coçou a base da nuca, expulsou o ar dos pulmões e chegou a conclusão que não sabia mais o que fazer o prêmio se ganhasse. ficou ali, parada na fila, olhando para aquele mar de gente. e, calmamente, maria deu um passo para a esquerda. não para frente. não para trás. maria saiu da fila. "a vida, cacete...", filosofou maria, "...tem mais graça, quando se tem pelo menos um pentelho que seja, de ambição."

quarta-feira, 7 de maio de 2008

o melhor amigo e as polaróides.


















“filho da puta!!”, gritava adalberto. o cachorro, que não falava português obviamente, apenas olhava para ele. adalberto estava puto. e com razão. seu melhor amigo acabara de mastigar as polaróides que ele tinha tirado de sua ex-namorada. as polaróides, de uma época em que câmera digital não existia ou sequer dava pistas que um dia se tornaria realidade. não dava para editar, era click, esperar, olhar e guardar. adalberto levara um ano inteiro para convencer a namoradinha a deixar ele tirar aquelas fotos. topless. tudoless. eram oito, oito fotos. muito bem guardadas. a namorada já não estava mais na área. mas, sempre que batia uma saudade, adalberto pescava as danadas na gaveta e pimba. e como é que o melhor amigo dele, do carente adalberto-- encontrou as divinas polaróides? bom, num belo dia, adalberto chegou em casa esfomeado. abriu o armário da cozinha sem pensar. e, atrás de algo para saciar a fome, encontrou, ali, meio que abandonado um saco daqueles de pipoca de microondas. daqueles com 10 anos de validade. a pipoca estava ali desde o fim do relacionamento com a dona da bunda farta que adornava aquelas polaróides. adalberto pensou não uma, mais seis vezes e jogou o saco no microondas.
o cheiro da pipoca invadiu a cozinha e as narinas dele, nessa ordem. "extra manteiga", esse era o sabor da pipoca. e extra manteiga, você sabe, mela os dedos. a primeira mão de pipoca saciou a fome. a segunda mão acalmou os nervos. adalberto já podia pensar com mais clareza. e esse foi o problema. a partir do instante que a fome deixou de ser protagonista de suas grandes preocupações, a terceira mão de pipoca trouxe memórias. a namorada. a que cedeu seus direitos de imagem para as polaróides. aquelas. adalberto, como um míssil teleguiado se dirigiu para a gaveta. sem lavar as mãos. sem mesmo lamber os dedos, adalberto catou as polaróides. e fez o download mental de cada uma delas. len-ta-men-te. as imagens estavam novamente frescas na sua cabeça. com um misto de frustração e ansiedade. frustração por ter mais uma vez revelado para si mesmo aquele ponto fraco. e ansiedade para vê-las novamente.
mas voltemos a primeira linha deste texto. mais precisamente ao berro de "filho da puta!!". o cachorro, sem saber o significado daquelas palavras que pulavam da boca de adalberto, só sabia que tinha feito alguma merda. mas a culpa não era dele. era da manteiga extra. o cão farejou o aroma de longe, como funcionários de um escritório ao sentir o cheiro do pipocar do milho na copa da empresa fazem. as fotos, meladas de manteiga. o cão fuçou a gaveta que fora deixada exposta pela óbvia pressa minutos antes de adalberto. e pronto, fincou os caninos em cada uma delas. o gosto era uma merda, logo concluiu o cachorro. mas era tarde. as polaróides já tinham ido para o caráio. inconsolável, de um dos cantos do apartamento, adalberto tentava perdoar o cahorro. em voz alta, adalberto murmurava: "tudo bem. tudo bem. a filha da puta era gostosa mesmo. para cacete. tudo bem." e todas as noite, desde aquele dia, sempre que adalberto encontrava um anúncio de uma máquina digital no jornal, ficava com uma vontade danada de ligar para a dona dos superlativos das finadas polaróides. "vai que...", pensava adalberto-- enquanto tentava acessar aquele cantinho da cabeça dele em que existia a quase nula chance de encontrar cópias das polaróides.