segunda-feira, 24 de março de 2008
os melhores amigos e o joelho enrugado.
os dois eram amigos desde pequenos. quando tinham três, já moravam no mesmo prédio. jogaram no mesmo meio de campo durante muitos anos. um, mais recuado. o outro, naturalmente, mais avançado. já namoraram irmãs. já namoraram melhores amigas. foram da mesma turma durante sete anos consecutivos. até que um resolveu seguir engenharia e o outro direito. mas mesmo assim, anos depois, mantiveram a amizade. ambos fazem um esforço descomunal para tomar um sagrado chopp. toda terça-feira. isso, apesar de um trabalhar na casa do caralho e o outro casa do cacete. e a amizade dos dois parecia que morreria assim. sólida. única. parecia. até o dia que flávio, ao conhecer a nova namorada de arthur, fez um comentário. foi a menina levantar para ir ao banheiro que flávio disse: "legal. bonita. mas tem um joelho esquisito. enrugado." e arthur, com um dos cantos da boca cagado de mostarda refletiu no comentário do melhor amigo: "joelho enrugado?" a namorada voltou. a noite seguiu. sorriso amarelo. sorriso amarelo. beijo. beijo. abraço. abraço. " a gente se fala."
nunca mais se falaram. culpam o trânsito. culpam o trabalho. mas os dois, no fundo sabem que nenhuma amizade, por mais forte que ela seja, resiste a um comentário escroto daqueles.
Filé de Soja
eu não sou vegetariana mas finjo que sou.
eu não sou hippie mas finjo que sou.
eu não sou contra casacos de pele mas finjo que sou.
eu não sou budista mas finjo que sou.
eu não sou fã de kubrick mas finjo que sou.
eu não sou fã de caetano mas finjo que sou.
eu não sou fã de acampar na natureza mas finjo que sou.
eu não sou feliz com o meu marido que é isso tudo.
mas finjo que sou.
sexta-feira, 14 de março de 2008
IF - Heavy
"please... no drum solo... please no drum solo..."
o led zeppelin não tocava junto desde os tempos áureos dos anos 70. e apesar da noite histórica, otávio só conseguia pensar numa coisa: "não toca moby dick. não toca moby dick. não toca moby dick." por dois motivos. o primeiro, e mais óbvio, é que assim que começasse a música, bastaria um grito lá do fundo: "moby dick! porra!!!" para sua noiva (que fora ao concerto só por ele-- e não conhecia picas da banda) se sentir ofendida. pois iria, com toda a certeza do mundo, achar que era com ela-- e não com a música. e o segundo motivo, e definitivamente, o mais importante: o solo de bateria imortalizado com as baquetas de john bonham. no último disco deles, o solo de bateria de moby dick durou exatos 19 minutos e 23 segundos. o estresse com a noiva ele aguentava. o solo de bateria com ela em cima, não.
O aroma do pão.
o flamengo ganhou do meu vasco da gama. mais uma vez. saudade do dinamite. saudade do andrada. saudade do geovanni. já já o filho da puta do 51 aparece: "ô, ô, ô, obina é melhor do que o etô."trabalho desde 1974 nesse prédio. me pagam uma merreca mas tenho apartamento de graça. sou viúvo. criei dois filhos aqui.o primeiro é escrivão da aeronáutica. queria ser paraquedista, mas tinha a sola de um dos pés chata. "pai eu tenho a sola do pé chata!" nunca vi uma pessoa chorar tanto por causa de uma sola de pé. o segundo casou com uma prima. vende enciclópedias. de porta em porta. esse tá na merda: "a internet me fodeu." deve dois paus no cheque especial.
minha vida se resume a dois botões. o da entrada do prédio. e o da garagem. leio a revista veja em prestações. e as manchetes dos jornais dos moradores atrasados. mas não é tão ruim quanto parece. tem uma coisa que me faz continuar:a madame do 22. aquele cheiro de pão quente que ela carrega debaixo do braço vindo da padaria-- misturado com o desodorante 'rastro' mexe comigo. ela faz de propósito. abre uma frestinha do saco de pão e abana o suvaco só para me tentar. hoje eu como aquele pão. não tenho nada a perder. o meu vasco já foi para o caralho.
terça-feira, 11 de março de 2008
O CAROÇO
- nos filmes parecia mais saboroso.
- saboroso?
- o dry martini.
- tá ruim?
- tá ok.
- ok é uma bosta.
- ok é ok.
- mas-- se poderia ser melhor, então é uma bosta.
- nos filmes, quando o sean connery pedia eu ficava morrendo de vontade.
- e quando o pierce brosnan pedia?
- não. sean connery. o brosnan tinha cara de tomar aquilo forçado. porque tava no roteiro.
- a azeitona, você vai comer?
- como?
- a azeitona?
- eu dou, mas só se você prometer que vai comer de uma vez. odeio homem que fica mordiscando as beiradas da azeitona.
- e chupar o caroço da azeitona, pode?
- nem fudendo.
silêncio.
silêncio.
- na cindy crawford parecia mais saboroso.
- saboroso?
- a pinta.
AQUELE
aquela mão no queixo. aquele par de óculos moderno. aquela calça diesel. aquela camisa lacoste. aquele cabelinho grisalho. aquele par de sapatos emergenildo zegna. aquele ar de que entendeu o quadro. aquele ar blasè. aquela boquinha nervosa que devora canapés com patê. aquele nariz empinado. aquele cara, só não me come se não quiser.
O PONTA ESQUERDA
matias jogava bola como poucos. no campeonato de 1967, marcou vinte e nove gols. todos com a canhotinha. o canhão de navarone. não de niterói. de navarone. reza a lenda que o canhão de matias aleijou um zagueiro e rompeu o tímpano de um gandula. "lenda não, aquele filho da puta nunca mais andou." matias não perdoava zagueiros desleais. machucava também as mulheres. minutos antes da final de 67, matias foi pego pelo técnico comendo a filha dele no vestiário. lá fora a torcida gritava: "matias! matias!" lá dentro, a filha do técnico: "matias!! matias!!" e ali, ao lado, com a mão direita apoiada na cintura, o técnico: "matias!" naquela tarde matias deus duas, marcou quatro e dedicou todos os gols mais o troféu de artilheiro para o técnico.
segunda-feira, 10 de março de 2008
O QUEIXO DO MOLEQUE
- muié? conta você ou conto eu?
- fala baixo ou ele vai escutar.
- porra, cansei dessa babaquice. o moleque não tem culpa.
- passa o molho de tomate.
- molho de tomate? mas que mudança brusca de assunto, e o moleque?
- o molho.
- só se você devolver o meu maço de cigarros.
- ok, conta você.
- não, conta você.
- você.
- não precisa.
- como não precisa?
- ele tem um furo no queixo.
- furo no queixo?
- é, igual ao do john travolta.
- e?
- eu não tenho. você não tem. deixe ele crescer mais um pouco que ele
vai notar. vai descobrir sozinho.
- e se ele não notar?
- as mães dos amiguinhos malvados da escolinha dele com certeza vão
notar.
- que bom.
ANCA DA CYBILL SHEPHERD
- caralho, ela tinha que perguntar se eu me masturbava pensando nela? não consigo mentir. tive que falar que só consigo gozar pensando na cybill shepherd do seriado "a gata e o rato." e logo ela que tinha tudo para dar certo. aprecia o esquema tático do muricy. sabe tirar a babinha do quiabo. cybill shepherd.
ancuda do caralho. porra, tá vendo. é só falar na cybill que eu já tenho que ajeitar a cueca.
MÁRIO
mário não gostava de piadas que envolviam o seu nome e um armário. mário cresceu em copacabana na rua cupertino durão. mário também não gostava de piadas que envolviam o seu nome, um armário e o nome da rua em que ele cresceu.
o sobrenome do mário era "rego". mário rego. como em: "mário rego?" e ele: "presente!" mário não gostava de piadas que envolviam o seu nome, um armário , o nome da rua em que ele cresceu e o seu sobrenome. mário tinha um pintinho. um animal de estimação. não o orgão sexual. que como você pôde ver, permite uma infinidade de piadas. mário não gostava de piadas que envolviam o seu nome, um armário, o nome da rua da casa que ele cresceu, seu sobrenome e o seu pintinho. mário gostava muito de uma só coisa.
mário gostava do gato.
o gato, felizmente não permitia piadas com conotação sexual de gosto duvidoso.
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